“Superman – O retorno” – A paródia oficial


Cena 13 – Epílogo

Na tela toda preta, surge a expresão "Alguns anos depois..." e em seguida CORTA para

BRASIL – SERTÃO DA PARAÍBA – MUNICÍPIO DE MIUDÓPOLIS DA REDENÇÃO - TEMPLO EVANGÉLICO – EXT./INT./DIA

Uma fila de pessoas muito pobres com cara de retirantes caminha lentamente. TRAVELLING EM CLOSE mostrando as expressões sofridas das pessoas na fila.

O plano se abre para um PLANO GERAL MÉDIO que mostra estas pessoas caminhando numa fila muito longa e que se dirige para um enorme templo de Cristal localizado no meio da paisagem árida do sertão da Paraíba.

Na entrada, há um obreiro distribuindo folhetos.

OBREIRO: Venham e vejam hoje o Poder Supremo se manifestar. Assistam a cura do paralítico, a conversão do incrédulo, e os testemunhos de adúlteros, desenganados e ex-vilões convertidos...

Dentro do templo, o culto das quatro da tarde acaba de terminar. No púlpito, há um homem alto e forte, usando óculos e um terno preto de corte impecável. É o Reverendo Steel.

REVERENDO STEEL: ... Mas livrai-nos da Kryptonita e dos vilões lunáticos. Para hoje e todo o sempre. Em nome Jor-El, Kal-El e Past-El...

FIÉIS: S-Amém.

REVERENDO STEEL: Por Krypton, vão em paz com a proteção do Supremo Jor-El.

FIÉIS: S-Amém.

Os fiéis deixam lentamente o templo enquanto outros recém-chegados começam a se acomodar. Um homem de estatura baixa e gravata borboleta se aproxima do Reverendo Steel. Sua voz é familiar. É JIMMY OLSEN empunhando uma ultra-moderna câmera digital, merchandising da NIKON.

JIMMY OLSEN: Com licença, Reverendo, o senhor me permite tirar uma foto?

O sisudo Reverendo Steel se vira e reconhece Jimmy Olsen. É a primeira fez que o Reverendo sorri em dezenove meses.

REVERENDO STEEL (sorrindo): Jimmy, há quanto tempo!

JIMMY OLSEN: Já faz tempo mesmo.

Eles se abraçam.

REVERENDO STEEL: O que o trás tão longe?

JIMMY OLSEN: Mandei o Jameson se foder e pedi demissão do Planeta Diário. Agora seu sou free-lancer. Estou fazendo uma reportagem especial sobre o paradeiro do Superman para um tablóide inglês, na linha “Élvis não morreu”.

REVERENDO STEEL: E você já encontrou o Homem-de-Aço?

JIMMY OLSEN: Ainda, não. Há um boato que ele voltou pro espaço e abriu uma boate gay.

REVERENDO STEEL: Francamente, Jimmy!

JIMMY OLSEN: É só um boato, Reverendo. Preciso investigar mais. Só que o jornal não quer pagar minha viagem na Enterprise. O editor é mais pão duro do que o Jameson.

REVERENDO STEEL: Sei.

JIMMY OLSEN: Enquanto isso, estou de férias no Brasil. Mas você sabe como é vida de repórter, a gente está sempre correndo atrás de uma matéria.

REVERENDO STEEL: É verdade.

JIMMY OLSEN: E aí, eu tava semana passada de bobeira num puteiro em João Pessoa e ouvi falar que numa tal de Miudópolis da Redenção, lá no cu do sertão, tinha uma igreja nova com um pastor que podia fazer coisas impressionantes.

REVERENDO STEEL: Eu sou um mero instrumento para a realização da obra do Poderoso Jor-El. Eu faço o que eu posso para ajudar estas pobres pessoas.

JIMMY OLSEN: Você é muito modesto, Reverendo...

Jimmy Olsen só agora percebe a grandiosidade do templo.

JIMMY OLSEN: ... mas o templo até que é bem suntuoso.

REVERENDO STEEL (em tom de modéstia): A casa é grande porque Grande é o Misericordioso Jor-El.

JIMMY OLSEN: Sei.

REVERENDO STEEL (sem disfarçar o orgulho): O nosso templo é todo feito de cristais Kryptonianos.

JIMMY OLSEN: Pelo jeito parece que vocês estão crescendo bastante, hein, Reverendo Steel?

REVERENDO STEEL: Graças ao Supremo Jor-El, não posso reclamar da vida. Os fiéis chegam de todos os lugares. E embora sejam pobres de dar dó, eles têm sempre um trocado para contribuir para nossa obra social.

JIMMY OLSEN: Puxa...

REVERENDO STEEL (continuando): ... estou, quer dizer, ESTAMOS fazendo nosso pé-de-meia. E temos grandes planos. Estamos pensando até em comprar uma rádio ou um canal de televisão. Coisa pro futuro. Como um amigo meu sempre dizia: PARA O ALTO E AVANTE!

Jimmy Olsen sorri. O Reverendo Steel se vira, abaixa os óculos e dá uma piscada para a CÂMERA.

FADE OUT.

THE END.

FIM.

ACABOU, PORRA.

LEVANTAÍ!