quinta-feira, julho 13, 2006


"O Amargo da tua boca Doce" - O diário de Nando Playboyzinho
(Depoimento a Stuart Silva)


Capítulo 1 - Uma transa do outro mundo - Parte 2 de 2


Senti um calafrio subir pela a minha espinha.

— Caboclo Zezão?

A cliente me olhava completamente transtornada.

— Intão foi sunsê, mizifíu? Quê que sunsê qué do cabôco Zezão?

Parecia uma piada. Mas logo vi que era só azar de principiante.

A mulher prosseguiu:

— Quê sunsê tava fazendo com cabôco?

Ela olhou pro seu corpo e percebeu que não estava nua graças à pequena peça de lingerie.

— Sunsê tava fazendo safadeza com cabôco! — gritou.

Fiquei imóvel e mudo.

— Fala, fíu duma que ronca-e-fuça! Fala qui se fêiz cum cabôco! — continuava a gritar.

— Não é nada disso que você tá pensando...

A cliente partiu pra cima de mim com decisão.

Escapei pro outro canto do quarto, saltando por cima da cama. Meu pé escorregou no lençol de seda e bati a cabeça no abajur.

— Sunsê abusô do cabôco! Agora o cabôco Zezão vai abusá de sunsê.

Ela alcançou a base que sobrou do abajur e só então notei que ele tinha o formato de um consolo. E dos grandes.

Rastejei pra debaixo da mesa de granito.

— Cabôco qué vingança! Cabôco Zezão vai infiá essa lança em sunsê, disgramado.

Ela correu em minha direção. Num ato desesperado, mergulhei por entre suas pernas. A mulher bateu com a cabeça na mesa com toda força e desmaiou.

Deitei-me aliviado, tentando recuperar o fôlego.

Alguns minutos depois, levantei-me com dificuldade. “Isso só acontece comigo”, pensei enquanto rapidamente me vestia. “Vou cair fora daqui o quanto antes.”

Carreguei a cliente desacordada e coloquei-a sobre a cama.

Fui até a porta quando lembrei de minha remuneração. Voltei e peguei as duas notas. Dei uma última olhada para a cliente. Resolvi deixar um bilhete: “Sinto muito. Mas não posso deixar de cobrar pelo serviço. É uma norma da agência.”

Dei um passo em direção à porta e ouvi a cliente soltar um sonoro peido. “Agora o caboclo subiu”, falei rindo.

Saí do motel e parti veloz com a moto. “Que doideira”.

Com o vento batendo em meus cabelos, lembrei-me de uma música que ouvi outro dia na rádio: “A vida é uma peça que te pregam / Muito mais que teus medos enxergam”.

Engraçado. Às vezes, é o inverso, parece que a vida quer pregar uma peça nas pregas da gente.

Mas nas minhas, não.

(Fim)

Não perca na próxima terça-feira, o segundo capítulo de "O Amargo da tua boca Doce", mais uma inusitada aventura de Nando Playboyzinho.

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